Entre a nostalgia e a resignação...* (ou: "não confie em ninguém com mais de trinta anos")
* Este devaneio será melhor compreendido por quem já passou dos trinta
Cada vez escrevo menos neste blog. Porque será?
Cada vez me afeto menos com a notícia triste do jornal.
Cada vez compreendo mais quem tenta se ajustar à norma
Porque será?
Prestes a completar trinta e um anos de existência, volto a pensar no quanto (e como) o tempo nos arrasta para uma existência meio que no limbo.
Quando será que em nós o botão do "piloto automático" é acionado?
Não se trata de uma construção pseudo-delirante, isso está aí para todos, mas eu tenho me sentido nesse pêndulo... entre a nostalgia e a resignação.
Nostalgia no sentido de desejar ter vivido mais coisas, em outros tempos, tempos de outrora que não voltam mais.
Não, eu não quero ter dezoito anos novamente. Quero só a paixão das coisas de novo. O incômodo, a impossibilidade de se acomodar... Queria ter visto mais mares, contemplado mais vezes o por-do-sol e sentido mais vezes o coração bater acelerado.
Queria apenas "não acomodar com o que incomoda", como diz um dos poetas da minha geração.
Mas com o tempo isso se torna cada vez mais difícil, e este mesmo poeta deve saber disso, deve ter escrito esta frase como um lamento, um clamor... aí aparece a resignação.
A gente se ajusta, se acostuma com a vida. Mudar o mundo? Mudar as pessoas? Ou só mudar meu bairro, minha rua... mas pra que? Quando na verdade chega um tempo em que você só quer pagar seu aluguel ou realizar seu sonho de ter uma casa na praia...
É a luta do dia-a-dia, as contas a pagar que não param de chegar, as preocupações com o futuro.
E essa canção do Marcos Valle, que mencionei no título deste post fala disso. Naquela época, ditadura, maio de 68 na França, revoluções dos jovens, não se podia confiar em quem já se ajustou, em quem já não se afeta. Era preciso contar com apaixonados que acreditavam poder mudar o mundo.
Mas então o que fazer? Há saída do limbo?
A minha percepção é de que o amor nos salva... ah, o amor... ele torna tudo possível! resgata a paixão perdida em cada um de nós. E o desejo de ser alguém melhor, de fazer algo pelo outro. Quando estamos amando, estamos em paz, conosco e com o mundo. Podem reparar, quem ama vive melhor, lida melhor com os outros.
O amor nos resgata do limbo onde o tempo nos joga. Talvez por isso dizem que quem se apaixona rejuvenesce...
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