O levante de uma geração

Sou da geração pos-ditadura. Uma geração amedrontada pelas histórias de tortura. Histórias que envolviam agressões físicas e psicológicas difíceis de se imaginar. Torturadores que andavam livres por aí como se nada tivessem feito.
Minha geração tinha medo demais para reagir.
Os tempos são outros... Nosso país passou aí uns vinte e cinco anos de marasmo e conformismo após o estrangulamento da ditadura.
E os jovens são outros... Se levarmos em conta a música de Marcos Valle que diz "não confie em ninguém com mais de trinta anos", podemos pensar que essa galera que tá nas ruas não tem as marcas da ditadura. Sim, eles sabem o que aconteceu entre 1964 e 1989. Mas não carregam consigo aquele medo...
E os governantes não esperavam por isso.. De certa maneira se acostumaram com o marasmo da juventude, com as bocas e almas cerradas e amedrontadas...
Não se trata de vinte centavos. As manifestações já ultrapassam em larga escala a questão do aumento das passagens. E a mídia ainda empreende todo seu esforço para esconder a informação e passar a idéia de terrorismo e vandalismo. Mas atualmente, com a força das mídias sociais, é impossível camuflar informação.
Não se trata de vinte centavos. Trata-se de felicianos e mensalões. De impostos absurdos e abusos inacreditáveis. Do higienismo e genocídio moral de crianças e adolescentes, de dependentes químicos, gays e negros.
Por outro lado, vivemos um tempo de retrocesso, moralismo religioso e resignação. Onde a maioria acha mais fácil engolir a notícia da globo.
Aqueles que lutaram contra a ditadura já se encontram com suas forças esgotadas. E minha geração me envergonha... Um bando de reaças que se esqueceram do que é ter um sonho. Esqueceram de Luther King e Gandhi. Esqueceram que sentiram medo, que se sentiram indignados e amordaçados.

Meu conselho a está geração que não foge à luta é o de Caetano Veloso:
"É preciso estar atento e forte. Não temos tempo de temer a morte!"

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