Micro-revolucionários

Eu queria escrever uma canção daquelas que faz o coração cantar. Queria ter talento suficiente para expressar em melodia o que me vai dentro d'alma. Essa noite eu sonhei que tudo não havia passado de um sonho. E nos sonhos nada é colorido. Você sabia que quanto mais velhos ficamos mais nossos sonhos perdem a cor? É sério, a ciência comprovou. Falo de sonhos da hora de dormir mesmo, muito embora os sonhos que sonhamos acordados também vão perdendo a cor com o passar dos anos.
Mas, nesse meu sonho eu ouvia uma melodia que me fazia parar de pensar. E porque eu parava de pensar, sorria. Aquele sorriso despretensioso que temos ao olhar uma criança a brincar.
Eu sei que a vida está ficando para trás, não posso deixar de perceber isso com tristeza. Mas, não é uma tristeza que me impeça de sonhar. Quando a gente cresce um pouco, vamos perdendo a capacidade de sonhar. Uma vez eu ouvi de um jovem de 24 anos: "Creio que seria melhor tirar minha vida, pois entendi agora que o sentido da vida é ir atrás do que desejamos. Mas, quando alcançamos nosso desejo, a satisfação é sempre menor que o esforço para obtê-lo. Não há sentido nisso".

Quando a gente cresce, "toma juízo", os sonhos ficam mais distantes. Conheci uma criança que tinha como plano de vida "ganhar na loteria". Olha que fantástico! "Quando eu crescer vou ganhar na loteria e pronto."
Gente adulta tem que inventar sentido todo dia para continuar vivendo. É por isso que a gente se apaixona. Porque quando a gente se apaixona, todos esses "ideais" infantis retornam. Porque tudo é possível quando se ama alguém. Adulto se apaixona pra voltar a ser criança, pra voltar a sonhar.

Mas depois, quando passam os primeiros anos da juventude, empreendemos um esforço sobre-humano para acreditar de novo. É que a vida vai escapando entre os dedos. Não é que você vá morrer, mas sentimos os primeiros sinais da caducidade do corpo, dos nossos limites. Não somos imortais.
Eu vou fazer 35 anos, sei que a probabilidade de eu morrer nos próximos 30, pelo menos, é mínima. Mas, sei também que já não posso me dar ao luxo de me alimentar mal, com aquelas coisas deliciosas que comemos quando somos jovens e nem pensamos no que pode nos acontecer. Já não posso mais fumar, e quem fuma sabe muito bem o sacrifício que é não fumar. Isso vale para outras drogas também. É óbvio que você neste momento está pensando: "poder eu posso". Claro que sim, porém, a grande diferença, a cruel diferença para quando somos jovens, é a culpa. Poder você pode, mas provavelmente você pensa de vez em quando "Porra, estou velho demais para isso, vou acabar tendo um câncer ou um infarto".
É ruim ser adulto porque o mundo perde a cor. Você lê uma matéria dizendo que pessoas poderosas estão inventando doenças ou piorando seus sintomas para vender medicamentos e vacinas. Elas enriquecem vendendo remédios para doenças que elas mesmas criaram e ainda são condecoradas por evitarem a morte de outros milhares. Isso é a indústria farmacêutica. Quando você é ingênuo pensa que são histórias para vender jornal. Quando é adulto, você sabe que é verdade, e você não tem mais forças para fazer absolutamente nada a respeito. Afinal, quem vai pagar suas contas se você se tornar um revolucionário?
Mas, a boa notícia desse texto é que eu penso realmente que nós, adultos, podemos ser micro-revolucionários. Decerto que a militância de rua é composta por esmagadora maioria de jovens que pensam em mudar o mundo. E o que nós podemos fazer é:
1. Dizer a eles que podem mesmo! Ainda que por dentro a gente ache uma grande piada, nunca devemos desencorajar um coração;
2. Empreender pequenas revoluções diárias como: não ficar calado frente às injustiças, discriminações e desprezos nossos do dia-a-dia;
3. Executar uma revolução pessoal: vá a lugares que nunca foi, cuide da sua alma e ela tratará de cuidar do seu corpo, ame com todo seu coração, seja gentil sempre, desenvolva em si mesmo o sentimento de que você faz a diferença nesta vida, na sua mesmo, para você. Isso fará de você a diferença para os outros;
4. Envolva-se com algum tipo de expressão artística, sozinho ou em grupo;
5. Descreva suas experiências, com palavras ou de outra forma.


Então, era isso que eu tinha para compartilhar com vocês hoje. Da próxima vez, minha ideia é escrever um texto sobre alguns filmes com indicações ao Oscar que assisti.
A garota dinamarquesa, A grande aposta, O quarto de Jack e Spotlight

Até!

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