O produto desta atividade matinal
Que loucura foi ler esse blog hoje de manhã! As postagens antigas, de quando eu tinha 30 anos, 28 anos, 26 anos.... coisas que eu percebi que me deixaram em choque:
1. porque cargas d'água eu achava que sabia tudo da vida e que minha juventude já havia ficado no passado aos 28 fucking anos?!! Como jovem é ingênuo.... e era justamente o que eu dizia aos 28 anos... que eu não era mais ingênua kkkk Ô Deus se eu ao menos soubesse!!
2. É interessante ver como certas coisas permaneceram em mim, raízes minhas! o amor ao carnaval, ao samba, ao Flamengo. O cuidado que eu tenho até hoje com as pessoas próximas e amigas, muito embora eu não seja mais próxima das mesmas pessoas, mas fiquei orgulhosa de saber que me mantenho essa pessoa atenta ao outro :)
3. Como eu era retardada politicamente, com críticas rasas ao Obama, Fidel e Hugo Chavez. Não que eles não possam ser criticados, mas que bom que consegui evoluir criticamente nesse aspecto político que sempre me foi caro.
4. Mesmo a despeito do que eu disse acima sobre as coisas da minha infância que ainda carrego comigo, como eu mudei! que bom que eu sou uma pessoa diferente, que evoluiu seu modo de pensar e enxergar o mundo e as pessoas à sua volta...
5. fiquei pensando em como eu era afetada pela vida e hoje quase nada me tira do lugar sabe? e o mais doido disso é que eu tenho inúmeros textos ao longo dos anos que falam sobre isso - da perda da ingenuidade juvenil, de como não há mais o que dizer e sobre o que se afetar. Porque será que eu não consegui perceber que eu estava afetada, deveras afetada e justamente porque eu estava totalmente afetada pela vida é que tinha a necessidade de dissertar sobre os impactos da passagem do tempo. Hoje eu tenho essa percepção. Tenho a certeza que escrevo isso nesse exato momento porque estou afetada demais de pensar que daqui a 6 anos terei 50 anos, meio século de vida. As minhas afetações não são mais as mesmas. Aos 30 anos raramente pensava nos limites do meu corpo ou até mesmo da minha cognição. Hoje temo pensar por mais quantos anos vou conseguir pensar bem, rápido, ter sagacidade cognitiva sabe? E eu tenho certeza que vou ler isso que estou escrevendo aos 50 ou mais e já estar pensando outras coisas. Como eu era ingênua antes dos 30 e até com trinta e poucos. Será que as pessoas de 30 de hoje em dia também são assim? porque o mundo se transformou demais nos últimos 15 anos. Loucura pensar isso...
6. Como a vida vai seguindo um curso sem que a gente tenha quase que nenhum controle sobre ela... como o acaso pode do absoluto nada transformar tudo e cancelar todos os nossos planos... como algo que acontece do nada pode nos deixar feridas que jamais cicatrizam completamente... como o desamparo é desolador, assustador e vai se embrenhando pela nossa vida aos poucos, a medida que vamos perdendo quem amamos e com quem dividimos nossa história... como nossa jornada pode ser ao mesmo tempo linda e tremendamente dolorosa às vezes na mesma medida...
7. conquistei coisas na vida que quando mais jovem eu nem sonhava conquistar, eram tão irreais, tão distantes das minhas possibilidades que nem ousava sonhar com elas. Mesmo nessa época dos textos, já próxima dos meus 30 anos, já com ensino superior, ainda assim via muito distante algumas coisas. A vida da pessoa que nasce pobre é dificílima até para os que cursam faculdade. Até porque, em geral, não temos a possibilidade de cursar uma medicina por exemplo, ou estudar Direito e ficar dedicando aos estudos para um bom concurso. Enfim... ler esses textos também me transportou para um momento da vida onde minha mente era tomada por medo e angústia. Estava prestes a formar na faculdade, mas não tinha garantia de nada. Estava formando já com quase 30 anos e as pessoas esperavam de mim que a vida fosse logo resolvida. Ou ao menos eu imaginava que era isso que esperavam. E eu tinha um pânico quase paralisante de nadar e morrer na praia... Foi satisfatório retornar àqueles pensamentos que eu tinha e saber que deu tudo certo nesse aspecto da vida. E ter uma vida financeiramente estável muda a forma como a gente percebe as coisas e como o mundo nos afeta. Isso é muito doido porque quando eu fazia análise e falava sobre isso com a minha analista eu dizia que tinha muito medo de conquistar essa estabilidade (que no meu caso era passar num concurso público) e depois perceber que não era exatamente isso que me gerava angústia e continuar com a mesma angústia mas direcionada para outra coisa. Só que isso não aconteceu. A minha angústia era a insegurança financeira sim e como isso impactava a minha vida como mulher solteira que não tinha intenção de depender de um casamento para melhorar minha condição. Eu desejava ser a minha própria estabilidade. Hoje eu sei que a insegurança financeira é um dos maiores aspectos adoecedores que causam depressão e ansiedade. Hoje se fala como isso afeta a saúde mental, mas naquela época ainda estávamos começando a problematizar isso enquanto sociedade. Senti orgulho de mim por ter sido forte, corajosa, resiliente quando necessário. Por ter construído uma história que para muitos não é nada, mas representa meu sonho de criança (ter uma casa e uma família), de adolescente (viver em paz na minha própria casa) e de adulta (ter um trabalho estável e que eu goste, e que me forneça o básico para viver em paz). Não que eu não tivesse família na infância, sempre tive a minha mãe e a minha irmã. Mas a gente tinha muitos problemas, de todos os tipos: de pobreza, de violência doméstica, de abandono familiar por fundamentalismo religioso, enfim... fica para outro texto... eu encontrei o amor da minha vida e nós somos uma família linda! a gente se ama, se respeita, a gente se apoia, cuidamos uma da outra. Meu trabalho está longe de ser o melhor, mas eu me mantenho com ele de forma relativamente tranquila, e me orgulho do que faço. Meu trabalho tem impacto nas vidas das pessoas e da sociedade em que vivo. Sempre tive medo de trabalhar em alguma coisa inócua onde eu não encontrasse sentido...
8. Encerro pensando no futuro... o que eu desejo pra mim? como eu quero estar ao ler esse texto aos 50 ou 55 anos? eu tenho pensado muito nessa coisa da meia idade. Hoje estou prestes a completar 44 anos. Me sinto no auge emocional e cognitivo, mas temo estar desperdiçando isso.. eu queria ter mais tempo, dentro dessa agenda de trabalho, cuidados pessoais, cuidados com a família, lazer, no meio disso tudo queria ter mais tempo para me dedicar a atividades intelectuais, como leitura, escrita, música... queria estudar algo novo, aprender uma nova língua. Ao mesmo tempo em que penso em conseguir um emprego melhor ainda, ao mesmo tempo em que penso em viabilizar morar em um lugar melhor. E fico com isso tudo, mas vi passar dos meus 40 até agora sem efetivar nada disso. Tá certo que os anos de 2020, 2021 e 2022 foram meio que achatados como se não tivessem passado da mesma forma que os outros anos das nossas vidas né? Mas já se passaram 2023 e 2024... eu quero algo novo para esse ano e estou tentando me manter focada nisso.
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