Nota de Repúdio à coluna de Ferreira Gullar na Folha de S.Paulo

Penso quando você partiu assim sem olhar pra trás

Como um navio que vai ao longe e já nem se lembra do cais

Os carros na minha frente vão indo e nunca sei pra onde

Será que é lá que você se esconde?

O tempo faz tudo valer a pena

E nem o erro é desperdício

Tudo cresce e o início

Deixa de ser início

E vai chegando ao meio

Aí começo a pensar que nada tem fim,

Tudo passa e eu ainda ando pensando em você...

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Sentindo-se como o andarilho de Nietzsche: "Um andarilho vai pela noite a passos largos; só curvo vale e longo desdém são seus encargos; A noite é linda, mas ele avança e não se detém. Aonde vai seu caminho ainda? Nem sabe bem..."

Como pode alguém tendo tudo ainda querer mais? Ter tanto e ainda pedir por algo?

São dias que angustiam e suscitam desejo. Perder-se em seu próprio coração teria sido bom em outros dias.

As idéias insistem em tomar-lhe o sono, borbulham, mas não fazem o menor sentido. Mas e daí? Não é a perda ou iminência desta que sempre atribui o sentido?

O sentido talvez seja concordar com Pessoa, e viver esta vida desfrutando apenas do pensamento das emoções e das emoções dos pensamentos. Isso seria não se comprometer com seus próprios sentimentos, eles estariam apenas em seus pensamentos. E sentir apenas em sua própria alma, não mais projetar, esperar, desejar... Seria ilusão pensar que não haveria um outro envolvido, mas este estaria apenas em seus próprios pensamentos e emoções, e você estaria a salvo.

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Existe ainda a esperança de que isto seja apenas cansaço.

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Cansaço de existir.

Cansaço do ser humano e de ser humano

Cansaço por sua fala falsa

Cansaço por seu mórbido andar...

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