O Produto desta Atividade Mental: Heavy Metal e Filosofia da caçamba...





Ontem assisti uma entrevista do vocalista do Metallica, James Hetfield. Entre outras coisas, James não deixou de falar diversas vezes a respeito de sua relação com a música e com a arte em geral sem a intervenção das drogas e álcool. Fiquei me lembrando daquela canção que eles regravaram... "Wiskhy in the jar", que é o clássico dos beberrões. Será que o Metallica era melhor compondo sob (e sobre) álcool e drogas? Acho difícil... Quem é bom é bom mesmo. Dirão: "Ah, mas os Beatles foram transformados de uma bandinha de adolescentes para uma banda de respeito a partir do LSD". Talvez sim. Talvez não. Não há como vincular arte à entorpecentes. E talvez não seja também possível desvincular as duas coisas. Acho que certo mesmo nessa história é que cada um constrói a própria história. Cada banda. Cada artista. E essa virada na história do Metallica - que já não é de hoje, James já está abstemio há algum tempo - faz parte da bela história do Metallica, banda que já teve baixista morto em acidente, vocalista com rosto queimado em pleno palco, brigas contra o saudoso Napster, anos de ostracismo, outros anos de asfixia musical... Enfim: Achei interessante o retorno triunfal do Metallica e de extrema importância para um possível renascimento do rock em geral, perdido entre emos, pseudo-vampiros metidos a rock-stars e afins.
Escrevo este texto ao som de "For whom the bell tolls", do disco Ride the lightning do Metallica. Uma música fora de série de um disco espetacular! E ouvindo-a me lembro da minha adolescência, época onde ainda tínhamos escolha... Escolhíamos a que grupo pertenceríamos. Durante meu segundo grau formamos uma turma de rockers e sentávamos no ponto de ônibus após a aula. Ali bebíamos, jogávamos baralho, tocávamos violão. A turma foi crescendo, começou a incomodar o dono da farmácia, não coube mais no ponto. Passamos para a praça, saudosa praça
Maracanã, saudosa galera da praça Maracanã. Ponto de encontro da galera mais papo firme que o João Alfredo já viu, e porque não dizer, ponto de encontro de uma das galeras mais bacanas da Vila de Noel. Mas durante minha adolescência essa galera era composta por um grupo seleto, não era qualquer um que penetrava nosso ponto de encontro. Patricinhas e playboys por exemplo não eram bem-vindos. Mas não quero estereotipar, quando digo patys e plays não estou me referindo à classe social ou poder financeiro, refiro-me à um certo modo de se posicionar perante à vida e perante os outros... No popular: escrotice, filha-da-putagem... Isso não entrava no nosso grupo. E obviamente, roqueiros eram muito mais bem-vindos. Ou não necessariamente roqueiros, mas quem soubesse apreciar boa música, quem fosse capaz de ter a sensibilidade de reconhecer que Fernando Pessoa é de chorar, ou ficasse instigado com Nietzsche, enfim, coisas desse tipo. Não era preciso ser um filósofo ou poeta, mas ter essa posição de se instigar com as coisas, saber ouvir o diferente nas coisas, na vida. Era mais ou menos isso.
O que quero marcar aqui é que observo não ser mais assim hoje em dia. Hoje patricinha e hippie convivem numa boa. Não quero dizer que sou contra isso. Talvez seja difícil explicar. Quero dizer que acredito que essa homogeneidade dos grupos seja talvez a prova de que já não existem grupos... Aquela identificação com a liderança e a partir daí a formação de grupo identificados a um ideal já não existe. Claro, existe a Igreja, e a Igreja ainda é forte. Mas tudo está cada vez mais fraco. E isso é acompanhados pelo enfraquecimento dos movimentos populares também. Me perdoem, mas terei que voltar a filosofia da caçamba... Capitalismo. Globalização
Capitalismo como sistema político que tudo engole. Tudo joga na caçamba e revira, e quando tudo entra na roda já não existe movimento punk ou MST. Quando tudo é permitido, contra o que se revoltar? Se você pode ser o que quiser desde que não sofra, pode ser que você não queira ser nada.
Globalização... O maior exemplo de globalização que vi ultimamente foi o tal grupo japonês cantando samba em português... A história é a seguinte: os caras se conheceram num grupo de amantes do samba brasileiro e passaram a tocar nossos instrumentos típicos como cavaquinho e tan-tan; daí passaram a compor sambas (em japonês) traduzidas as letras por um amigo do grupo que sabe bem nosso idioma. E eles então cantam seus pagodes em português e são sucesso total no youtube. (clique aqui)

E é claro para ouvir o novo disco do Metallica, faça o download aqui.

Comentários

Michel disse…
Mal do século/milênio + globalização + crono-ejaculação precoce + inundação multi-mídia + mais do mesmo = SUPRA-DADAÍSMO

B. Jão...

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